Em busca de mais energia, melhor desempenho físico ou uma aparência idealizada, muitas pessoas recorrem aos suplementos alimentares como uma solução rápida e eficaz. No entanto, o que poucos sabem é que o uso indiscriminado desses produtos pode representar sérios riscos à saúde. A suplementação sem orientação profissional, além de ineficaz em muitos casos, pode causar desde desequilíbrios nutricionais até complicações graves.
Segundo o médico Gladistone Coghetto Junior, da equipe técnica do Kurotel, o uso de suplementos sem orientação profissional é arriscado, pois desconsidera as necessidades individuais, o histórico de saúde e os níveis reais de nutrientes no organismo, podendo levar a efeitos adversos ou até mesmo à intoxicação nutricional.
Ele explica que, em um organismo saudável e com alimentação equilibrada, o excesso de nutrientes pode causar desequilíbrios no metabolismo, em vez de melhorar o desempenho ou prevenir doenças. Os principais riscos, de acordo com o médico, incluem:
- Intoxicação por excesso devitaminas ou minerais (como ferro, vitamina A, selênio);
- Interferência na absorção de outros nutrientes, gerando novas deficiências;
- Sobrecarga de órgãos, especialmente fígado e rins;
- Interações perigosas com medicamentos;
- Em casos graves, pode levar a internações hospitalares e até em unidades de terapia intensiva (UTI).
"A suplementação deve ser usada apenas para corrigir deficiências reais, em situações como má absorção, doenças específicas ou aumento da demanda nutricional, e sempre sob avaliação profissional", afirma ele.
Órgãos sobrecarregados
O Dr. Gladistone Coghetto Junior observa que a suplementação feita de forma inadequada pode sobrecarregar principalmente o fígado e os rins, que são os órgãos responsáveis por metabolizar, filtrar e eliminar substâncias do organismo.
- Fígado (metabolização e detoxificação): Quase a totalidade dos nutrientes e compostos ingeridos passam primeiro pelo fígado, onde são transformados ou ativados para uso pelo corpo. O excesso de suplementos - especialmente vitaminas lipossolúveis, fitoterápicos e compostos sintéticos - pode causar acúmulo tóxico e inflamação hepática, resultando em hepatite medicamentosa ou insuficiência hepática em casos graves.
- Rins (filtragem e excreção): O que não é utilizado pelo organismo, especialmente o excesso de minerais hidrossolúveis como cálcio, potássio, zinco e vitaminas do complexo B, é eliminado pelos rins. Quando em excesso, esses compostos podem agredir os néfrons (unidades funcionais dos rins), favorecendo a formação de cálculos renais, insuficiência renal e até a necessidade de hemodiálise.
Sinais de alerta do corpo
De acordo com o médico, quando o corpo recebe uma quantidade de suplemento superior à que consegue metabolizar e eliminar - principalmente pelos rins e pelo fígado -, podem surgir sintomas de alerta. Esses sinais indicam que o organismo está reagindo negativamente ao excesso de nutrientes ou compostos. Entre os sintomas mais comuns estão:
- Náuseas, vômitos e diarreia: São respostas frequentes do corpo para tentar eliminar a substância irritante;
- Alterações de pele: Podem surgir manchas, coceira ou descamação;
- Olhos amarelados (alteração na coloração da esclera): Sinal possível de comprometimento hepático (fígado);
- Sintomas neurológicos: Como visão turva, letargia, tontura e confusão mental, que podem indicar neurotoxicidade.
"Esses sinais não devem ser ignorados. Ao perceber qualquer sintoma incomum durante o uso de suplementos, é fundamental interromper o uso e buscar avaliação médica imediata", recomenda ele.
Grupos mais sensíveis
Alguns grupos populacionais, segundo o Dr. Gladistone Coghetto Junior, são mais sensíveis aos efeitos adversos dos suplementos alimentares e, por isso, devem ter atenção redobrada ao utilizá-los. Esses grupos incluem:
- Gestantes e lactantes: Necessitam de nutrientes específicos em quantidades adequadas (como ácido fólico e ferro), mas estão mais vulneráveis à toxicidade, especialmente de vitamina A, que pode causar mal formações fetais. Fitoterápicos e compostos naturais também podem atravessar a placenta ou o leite materno, afetando o bebê.
- Idosos: Podem apresentar função renal e hepática reduzida, dificultando a metabolização e excreção de suplementos. Estão mais sujeitos a interações com medicamentos e a efeitos adversos por doses inadequadas.
- Atletas e praticantes de atividade física intensa: Muitas vezes, usam suplementos por conta própria para ganho de desempenho, sem avaliação das necessidades reais, o que pode causar sobrecarga hepática, renal e cardíaca. Fitoterápicos para "energia" ou "testosterona" podem afetar o sistema endócrino e causar desequilíbrios hormonais.
- Crianças e adolescentes: Estão em fase de crescimento e desenvolvimento, por isso qualquer excesso ou deficiência pode ter impactos a longo prazo.
- Pessoas com doenças crônicas: Pacientes com doenças hepáticas, renais, cardíacas, autoimunes ou em uso de múltiplos medicamentos devem ter acompanhamento rigoroso. Certos suplementos podem interferir no tratamento, piorar a doença ou anular o efeito de medicamentos.
Suplementação segura: por onde começar
O Dr. Gladistone Coghetto Junior afirma que o caminho mais seguro e eficaz para iniciar a suplementação é buscar orientação profissional. "A decisão de usar qualquer suplemento deve ser baseada em uma avaliação individualizada, feita por um nutricionista ou médico, que leve em conta o histórico de saúde, a rotina alimentar, os hábitos de sono, a prática de atividade física, o uso de medicamentos e os objetivos pessoais de quem busca esse recurso", orienta.
Exames laboratoriais são essenciais para detectar deficiências nutricionais e avaliar a saúde dos órgãos. Muitas queixas podem ser resolvidas com melhorias no estilo de vida, como alimentação equilibrada, sono de qualidade, hidratação e exercícios. De acordo com o médico, a suplementação deve ser indicada apenas quando houver necessidade comprovada e deve sempre ser acompanhada por um profissional para garantir eficácia e evitar riscos à saúde.
"Portanto, suplementar de forma segura exige consciência, responsabilidade e acompanhamento. Longe de ser uma solução mágica, a suplementação deve ser vista como um recurso complementar e pontual, sempre baseada em evidências e necessidade real", ressalta o Dr. Gladistone.
Dr. Gladistone Coghetto Junior - Graduação pela Universidade do Oeste de Santa Catarina (UNOESC) em 2015. Pós-Graduação em Medicina Paliativa pela UNOESC em 2017. Pós-Graduação em Medicina de Urgência Associação Brasileira de Medicina de Urgência e Emergência em 2020. Pós-Graduação em Medicina Intensiva pelo Hospital Israelita Albert Einstein em 2021. Pós-Graduação em Nutrologia Clínica pela Afya Educação Médica em 2023 - CRM: 52111-RS