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Confira os tipos de perdas e aprenda a lidar com elas

22/5/2024
Kurotel
Confira os tipos de perdas e aprenda a lidar com elas

Falar sobre perda e luto não é fácil. O luto é uma experiência complicada e lidar com uma perda não é um processo simples. Frequentemente associamos o luto à morte de um ente querido. Porém uma perda pode ser concreta, como a de uma pessoa que amamos, mas também simbólica, como o término de um relacionamento, por exemplo.

"Temos perdas concretas na vida: perda de um ente querido, nós não vamos mais ter a presença física daquela pessoa. E perdas simbólicas, separação conjugal, o término de um relacionamento, a mudança de emprego, um novo trabalho e assim por diante”, explica o psicólogo Michael Zanchet, da equipe técnica do Kurotel.

“Ou seja: perdas concretas as quais eu não vou mais ter contato e lutos simbólicos, os quais são perdas significativas (trabalho há 20 anos em uma empresa e me aposento, simbolismo da perda diária daquele local, com uma determinada tarefa, com as mesmas pessoas)”, completa ele.

E como lidar com perdas repentinas? Como lidar com a dor de uma história que foi interrompida antes do tempo? De acordo com Michael, as perdas repentinas são as mais difíceis porque não existe um preparo para essa perda. "Acordei de manhã e aquele meu amigo, com o qual almocei ontem, teve um acidente e faleceu; fui dormir e teve um vendaval e derrubou uma árvore no telhado da minha casa” ,diz ele.

“É diferente de eu ter um amigo lutando contra uma doença há um ano, e eu acompanhar as debilidades físicas e emocionais dessa pessoa, e ir me despedindo da sua vivacidade dia a dia. Existe um tempo para eu me acostumar com a ideia daquela perda. Meu telhado está com vazamento, está já cedendo e ele caiu em seis meses”, afirma opsicólogo.

De acordo com Michael, as perdas são diferentes porque, em uma, temos um tempo para nos acostumarmos e, em outra, não. Quando é algo repentino não estávamos esperando aquilo. "O tempo diminui a intensidade do impacto, mas a dificuldade está no processo de aceitação de que a perda é inerente da vida, mas não fomos projetados para a perda, não é uma opção, uma escolha, e sim uma veracidade inevitável", completa.


Tipos de luto

Segundo Michael Zanchet, existem nove tipos de luto. Confira abaixo:

Luto natural: perda de um ente querido. Existe um tempo para elaborar e aceitar essa perda, dando retomada à vida.

Luto complicado: não aceitação da perda. A pessoa paralisa suas atividades por tempo indeterminado, cultivando o sentimento de melancolia e tristeza; tendo uma morte simbólica por não elabora ra perda concreta.

Luto antecipatório: a pessoa tem convívio com alguém que tenha uma doença crônica (por exemplo: câncer) e já antecipa a perda e, muitas vezes, deixa de se relacionar saudavelmente mesmo antes de algo que pode ser que nem aconteça.

Luto não reconhecido: às vezes, as perdas de animais de estimação geram esse sentimento. Muitas pessoas não reconhecem a dor do outro pela perdado seu pet, desvalorizando a relação afetiva e transferencial que existe com os animais.

Luto ausente: a pessoa nega a realidade por dificuldade em aceitar a perda e usa como defesa emocional não entrar em contato com as emoções negativas relacionadas às perdas.

Luto atrasado: em consequência do luto ausente, a pessoa que sublima a sua dor, em algum outro momento que tem uma perda (exemplos: relacionamento e emprego) pode desencadear as situações de perda real do passado e passar a ter sintomas depressivos em decorrência de não ter vivenciado a perda no passado.

Luto traumático: aquelas perdas não esperadas e traumáticas: acidente, suicídio, a inversão da morte (um pai que perde o filho, por exemplo, invertendo a lógica natural da vida).

Luto gestacional ou neonatal: perda de uma gestação ou de um bebê quebra toda a expectativa da geração de uma vida e quebra a lógica natural da vida.

Luto coletivo: luto relacionado a um evento climático (enchentes) ou de saúde (pandemia), de comoção social.

Estágios do luto
O luto tem cinco estágios, de acordo com Michael Zanchet. São eles: negação (nego a realidade do que está acontecendo); raiva (por que comigo? O que fiz parapassar por isso?); barganha (começo a negociar comigo mesmo a aceitação do problema); depressão (tristeza, melancolia pelo que está acontecendo); aceitação (eu aceito a perda, começo a falar sobre, a criar uma rede de apoio, a enfrentar o problema e começo a passar pelo período de elaboração emocional do luto).

No entanto, esses estágios não são vividos de forma linear obrigatoriamente. "Nada na vida é linear; temos momento de reta, de curvas, de obstáculo e desvio; isso faz parte do processo da vida; isso ocorre da mesma maneira com as fases do luto; posso estar depressivo e aceitando, começando a enfrentar, posso ter momentos de raiva; cada fase tem seu tempo e elas podem se misturar", explica o psicólogo.

Como superar o luto?
Michael Zanchet afirma que não existe receita de bolo para superar o luto. "O importante é criar maneiras de trabalhar o emocional dessa pessoa. Tem pessoas que vão chorar, que vão querer falar sobre o assunto, que vão passar por um momento de isolamento social, que vão ter dificuldades de fazer as suas atividades de vida diária, que vão ler, escrever, que vão se agarrar na espiritualidade, que vão conseguir distrair a sua mente, manter vivas as boas lembranças daquele ente", diz ele.

 "Então, o importante é reconhecer quais são as maneiras pelas quais eu consigo atravessar o primeiro ano de ausência daquela pessoa e/ou daquilo que foi perdido e o que me ajuda a dar conforto às minhas emoções para, aos poucos e respeitando os meus limites, eu possa dar continuidade à minha vida, sabendo da perda, tendo essa marca na vida, sentindo saudade do convívio, mas com a intensidade e frequência da dor diminuída", completa.

Como ajudar quem está passando pelo processo de luto?
Muitas vezes, quando temos alguém próximo passando por um processo de luto, não sabemos as palavras certas para dizer para essa pessoa ou como agir quando estamos perto dela. Michael Zanchet aconselha o que fazer: "acolhendo, respeitando a vontade da pessoa, escutando a mesma... se deseja conversar, abraçando e dando afago. Se existe a permissão, respeito acima de tudo".

"Ao enlutado sempre digo: busque ter as boas lembranças daquela pessoa, daquele relacionamento, daquele emprego; cultive os momentos bons e não somente o fim; chore quando estiver com vontade de chorar, sorria quando estiver com vontadede sorrir, não se sinta culpado em estar bem. Tente tirar aprendizado de tudo aquilo que viveu; lembre-se dessa pessoa, desse objeto, desse local, que fez parte da sua história, mas não é a sua história, pois o que veio antes e o que virá depois somente pertencem a você", orienta.

Michael Zanchet - Psicólogo formado pela Universidade Luterana do Brasil (Ulbra/Canoas), em 2004, e pós-graduado em Psicoterapia Dinâmica na Fundação Faculdade Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre (FFFCMPA) em 2006. - CRP: 07/13384

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